Conjuntura do Sector da Construção Civil e Obras Públicas
Ideias-chave:
i) o ano 2004 resultou numa diminuição do nível de actividade, com uma taxa de variação média de -4,2%,
ii) porém houve também uma travagem do ritmo de depressivo do sector, pois face a 2003 essa taxa foi menos negativa em 3,2 pontos percentuais (p.p.),
iii) o ano de 2005 começou sem sinais de uma nova dinâmica, mantendo o arrefecimento sentido no final de 2004.
Como se temia no final de 2003, findado o ano 2004 o sector da construção viu adiada a sua retoma económica. Mais do que isso, as contas finais do ano apontam para uma degradação da actividade sectorial, com uma redução do valor acrescentado bruto (VAB) de 1,1% e do investimento em construção (FBCF) de 1%, após um ano em que tais grandezas haviam caído em 11,4% e 12,1%, respectivamente. Assim, somente nos últimos dois anos, a perda acumulada atingiu 12,4% ao nível do VAB e ao nível 13% do investimento.
Quanto ao emprego, a sua evolução reflecte o comportamento dos anteriores indicadores, havendo uma perda média de 32,5 mil postos de trabalho os quais, juntando-se aos 38,7 mil postos de trabalho perdidos em 2003 perfaz, em dois anos, uma redução total de 71,2 mil empregos no sector da construção.
Ao longo do ano 2004, conforme demonstram os dados trimestrais, a evolução global do sector observou um comportamento distinto, iniciando com variações trimestrais positivas, com um crescimento do VAB de 1,5% e 2,3%, no 1º e 2º trimestres, respectivamente. Este crescimento foi interrompido no 3º e no 4º trimestres, nos quais o VAB diminuiu trimestralmente em 1,9% e 2,1%, anulando os ganhos iniciais e fazendo com que o ano fosse de novo depressivo. A única variável que manteve um comportamento de sinal constante foi o emprego, que esteve sempre em queda, com uma variação máxima logo no 1º trimestre, no qual caiu 1,7%.
Observando-se o comportamento do mercado de trabalho na perspectiva do número de horas trabalhadas [1], enquanto variável muito mais próxima do ritmo de actividade das empresas, uma vez mais se pode verificar haver uma evolução mais favorável até ao mês de Maio, seguida de uma nova redução. De facto, com a excepção de Maio e Junho, as taxas de variação homóloga (t.v.h.) foram negativas ao longo de todo o ano 2004. O meses de Setembro a Novembro significaram o retorno a taxas de variação homóloga mais baixas, com um pico de -11% em Outubro. Não obstante a inversão de tendência entre o início e o fim do ano, o ano 2004 resultou (i) numa diminuição do nível de actividade (pois, em Novembro, a taxa de variação média foi de -4,2%) e (ii) numa travagem do ritmo de depressivo do sector, pois face a 2003 essa taxa foi menos negativa em 3,2 pontos percentuais (p.p.).
O Indicador Global de Conjuntura calculado pela AICCOPN, aliás como vinha sucedendo em 2003, esteve sempre em terreno negativo, iniciando o ano nos -28,1% [2] e terminando-o em -18,7%. Assim, em perfeita coerência com os resultados quantitativos publicados pelo INE, constata-se que houve uma continuidade da degradação das condições de actividade das empresas (já que o indicador se mantém em valores negativos) mas, face a 2003, o sentimento das empresas não foi tão depressivo, traduzindo-se numa melhora de 9,4 p.p..
Face aos valores de Dezembro de 2003, todos os segmentos observaram uma redução do pessimismo, salientando-se as obras públicas, cujo indicador aumentou 7,3 p.p., subindo dos -25,4% para -18,1%. Porém, apesar desta melhoria, este era o segmento com um maior sentimento depressivo, assim permanecendo no final do ano 2004. No caso do mercado habitacional a recuperação foi de 5,1 p.p. e do não habitacional foi de 6,5 p.p.. Em linha com o comportamento global do mercado e como se referenciou face a outros indicadores, manteve-se um cenário de pessimismo e de depressão, se bem que com menor intensidade do que o registado no ano 2003.
Na perspectiva da dimensão das empresas, verifica-se que foram as médias pequenas que melhor enfrentaram este período, recuando no respectivo pessimismo em 6,9 p.p., 1,3 pontos acima da recuperação das grandes empresas. O pior desempenho esteve associado às pequenas empresas (4,4 p.p.) que, ainda assim, lograram manter-se menos pessimistas do que as demais.
O ano de 2005 começou sem sinais de uma nova dinâmica, mantendo o arrefecimento sentido no final de 2004. O Indicador Global de Conjuntura melhorou em 0,6 p.p., estando agora em -18,1%. Esta evolução é explicada pela actividade no segmento de obras públicas que viu o respectivo indicador subir 2,2 p.p, depois de em Dezembro ter recuado 3,7 p.p. Em contrapartida, nos segmentos habitacional e não habitacional a apreciação da actividade deteriorou-se, ficando os respectivos indicadores em -13,6% e -11,9%, respectivamente. Quanto a perspectivas para os próximos 3 meses, uma vez mais as empresas de obras públicas são as que antecipam uma melhor evolução da produção, o que se repercute numa maior disponibilidade para o investimento.
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