Banca Não Apoia Esforço das Empresas Alerta a AICCOPN
A verdade é que, apesar de apelos como os de Barack Obama, Angela Merkel, outros líderes governamentais e do próprio Presidente da República, para um maior empenho da banca na concessão de crédito às empresas, proporcionando-lhes condições para que possam ser capazes de dar uma nova dinâmica à economia e à criação de emprego, continua a haver uma política muito restritiva de crédito por parte dos bancos.
Segundo Reis Campos, “em Portugal as dificuldades de acesso ao crédito são crescentes, assumindo mesmo proporções críticas no caso do Sector da Construção”.
“Numa altura em que a política de juros baixos que tem vindo a ser sustentada pelo Banco Central Europeu, conduzindo as taxas Euribor para mínimos históricos, deveria estar a garantir ao tecido empresarial condições para se consolidar e para retomar o investimento necessário à dinamização da economia, a realidade mostra-nos que não é isso que está a acontecer”, acrescenta o dirigente associativo.
Recordando que quando a crise global se tornou evidente e ameaçou a solidez do sistema financeiro internacional se sucederam os apoios governamentais aos bancos para que estes pudessem sobreviver e fortalecer-se, o Presidente da AICCOPN diz que agora que, de acordo com a generalidade dos economistas, a crise financeira chegou ao fim, “seria legítimo esperar que os apoios públicos de que os bancos beneficiaram se reflectissem nas condições de crédito às empresas, para que estas pudessem, também elas, deixar de sentir os efeitos da crise e fossem instrumentos de uma retoma económica mais forte e célere do que aquela que se começa a anunciar”.
Mas não é isso que se está a verificar e “o acesso ao crédito está, até, mais difícil que há um ano atrás, quando os mercados financeiros entraram em colapso”, salienta, para acrescentar que “são inúmeras as empresas que ainda não vislumbram o fim da crise”.
Destacando o facto de, de acordo com os números do Banco de Portugal, desde o final de 2008 até Setembro último o volume de crédito concedido à construção ter caído 986 milhões de euros, Reis Campos junta a este indicador o facto de o inquérito mensal feito às empresas do sector revelar que “o spread aplicado à construção quase quadruplicou nos últimos 12 meses, situando-se, em muitos casos, acima dos 4%, o que anula totalmente o efeito da redução de 76,5% que a Euribor conheceu no mesmo período e faz com que, apesar dessa enorme quebra da taxa de referência, muitas empresas paguem hoje juros mais elevados do que há um ano, o que é moralmente inaceitável e, também, um enorme obstáculo para a recuperação da economia e do emprego”.
Afirmando que são os custos financeiros excessivos que as empresas têm sido obrigadas a suportar que explicam o facto de, em tempo de crise, os maiores bancos a operar em Portugal terem conseguido fechar o terceiro trimestre de 2009 com lucros de 1403,9 milhões de euros, qualquer coisa como 5,1 milhões líquidos ao dia, o Presidente da AICCOPN diz que “não é assim que os apoios do Estado à banca contribuem para a preservação da actividade económica e dos empregos”.
“É tempo da banca cumprir de forma efectiva o seu papel de intermediário financeiro, canalizando recursos para a actividade produtiva e reflectindo na economia real, nas empresas e no emprego, os apoios recebidos do Estado”, afirma, lembrando ainda que “sem empresas e emprego os bancos não podem ter futuro”.